Nery Porto Fabres

Os abutres na política

Por Nery Porto Fabres
Professor

As andorinhas se enfileiravam nos fios de luz, o dia mostrava os primeiros sinais do entardecer, quero-queros bailavam no céu avisando que buscavam os campos para passarem a noite. Este era o momento de os moradores se refugiarem em suas casas.

Portas fechadas com cadeados, muros altos, cães soltos no pátio, avisos de câmeras de segurança, eram as estratégias de evitar assaltos à noite. A região sul do Estado estava com os índices de violência acima de qualquer linha de preocupação, aquela que os gráficos apontam risco máximo. Não havia quem se arriscasse a andar pelas ruas à noite.

Este cenário surgiu com a vinda do polo naval para Rio Grande. A ideia do governo do Rio Grande do Sul contava com uma política do Estado que gerasse desenvolvimento regional. O plano tratava de estimular o mercado para produzir salários altos na indústria, consumo no comércio, construção de imóveis, aberturas de novos pontos de vendas de alimentação. Tudo isso traria circulação de dinheiro.

Esse movimento da moeda corrente iria ser tributado em todos os setores. Mais impostos, mais receita para os cofres públicos. A arrecadação tributária foi minuciosamente calculada para transformar o Brasil numa máquina de fazer dinheiro para a política. Por isso a indústria naval tinha um propósito claro e objetivo: fazer caixa para o governo. O problema que não tinha solução naquele momento era qualificação profissional para atender o mercado da construção naval.

Bem, aí que começaram os desafios da administração pública, quanto mais propagandas de crescimento local, maior era o número de pessoas desembarcando na rodoviária. A cidade de Rio Grande não estava preparada para receber indivíduos sem qualidade profissional adequada para as funções de caldeireiro, chapista, torneiro mecânico, pintor industrial, operador de máquinas, eletricista, mecânico de manutenção, etc.
Enfim, mesmo com um acréscimo considerável da população das cidades da Zona Sul, ainda assim não havia mão de obra qualificada para atender a indústria naval. Neste momento o tiro saiu pela culatra, muita gente ficou longe de sua cidade natal, veio por estar envolvida por uma atmosfera de vida melhor no Sul do Brasil.

Aqui perceberam que não tinham recursos financeiros para voltar para suas famílias e, por não lograrem êxito em nenhuma colocação no mercado de trabalho local, migraram para o crime. A violência urbana se manifestou de forma plural. Desde os pequenos furtos a crimes hediondos com intuito de trazer lucro imediato.

Sequestro, roubo a mão armada, tráfico de drogas, prostituição, assassinatos encomendados, roubo de veículos, roubo de cargas e tantos outros crimes foram ganhando terreno por aqui. Passado o período crítico, a Zona Sul voltou aos gráficos dos locais brasileiros em que diminuiu a violência. Mas, que fique claro, não é mérito dos órgãos de segurança pública. E sim por a comunidade voltar a viver da pesca, do cultivo de hortifruti, da Universidade Federal do Rio Grande, da refinaria de petróleo, das indústrias de adubo e do comércio de produtos para a população local.

No entanto, novamente os governantes querem aumentar a arrecadação para custear as campanhas políticas e, por óbvio, irão trazer outro projeto de geração de empregos para viverem com os bolsos cheios dos impostos dos trabalhadores. Não, não mesmo, eles não querem qualidade de vida para o povo, eles querem apenas o dinheiro do povo. São como abutres.​

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